terça-feira, 23 de agosto de 2011

Trabalho versus emprego

Há muito que eu tenho uma visão do mercado de trabalho que choca com a visão da maioria das pessoas, mas que é bem retratada pelo artigo seguinte que transcrevo na integra (Fonte: http://www.ionline.pt/conteudo/144609-trabalho-versus-emprego).

Não quer isto dizer que não haja quem queira trabalhar e não consiga, mas a situação retratada é cada vez mais frequente..


Há desemprego ou gente que não quer trabalhar? Os estrangeiros foram-se embora, mas muitos portugueses acham-se superiores aos trabalhos que deixaram vagos

Situação 1: Viajo de táxi a caminho do aeroporto. O taxista conta-me, a páginas tantas, que a mulher tem uma pequena loja de limpeza a seco e se vê grega para arranjar quem lá queira trabalhar. Por mais que faça, quem responde aos anúncios raramente aceita experimentar o trabalho e de quem ousa fazê-lo não chega a rezar a história. Nos dias que correm, já é mau alguém ver-se grego. Imagine-se grego e sem mão-de--obra...

Situação 2: Vejo uma reportagem na televisão. Queixa-se uma empresária do ramo têxtil que não encontra quem queira operar as máquinas de costura, que por isso estão paradas. Precisa de seis operadoras e... nada. O centro de emprego local até colabora - seleccionou para entrevista 17 candidatas. Sucede que dez nem sequer se deram ao incómodo de aparecer. Das demais candidatas, uma referiu que o trabalho lhe fazia falta mas não ia deixar de gozar férias, até porque já tinha casa paga. Nunca mais apareceu. Outra também disse que precisava muito de trabalhar mas tinha de ver melhor o trajecto casa emprego porque não se podia molhar toda. No dia seguinte, o marido ligou à empresária em causa dizendo que a mulher estava com uma depressão, o que a deixava indisponível para aceitar o trabalho. Chegou a haver um pedido para que fosse dada uma oportunidade a uma jovem grávida, mas, apesar da disponibilidade da empregadora, nem essa desempregada apareceu.

Situação 3: Entrevistámos uma candidata a empregada doméstica, que em visita guiada à casa nos pergunta se a televisão da cozinha "tinha" a SIC Notícias. É que a senhora gosta de ver umas notícias à hora de almoço. Grave lacuna da nossa humilde morada... Perguntou-nos ainda se tínhamos seguro de acidentes de trabalho, porque tendo a casa um pé direito daqueles de certeza que mais dia menos dia ia cair do escadote abaixo. Andar de autocarro para ir buscar os nossos filhos à escola seria um suplício. Acabámos por concordar que talvez a minha casa e o meu modo de vida não reunissem os requisitos mínimos para que a candidata pudesse exercer satisfatoriamente as funções. Apesar de nos ter dado nota da sua situação financeira aflitiva.

Há mais histórias destas? Há. Muitas? Imensas! Mais do que seria de esperar num país como Portugal em 2011. A taxa de desemprego está ligeiramente acima dos 12%, a mais alta desde que aderimos à então denominada Comunidade Económica Europeia. Regista-se um movimento notório de fuga de muita mão-de-obra estrangeira, designadamente daquela que nas últimas décadas se prestou a ocupar milhares de postos de trabalho para os quais não havia portugueses disponíveis.

Tudo isto dá muito que pensar. Podem dizer-me que a nossa população activa está, em geral, mais qualificada e habituou-se nas décadas mais recentes a padrões de vida mais elevados. Por isso, oferece resistência à aceitação de trabalhos menos qualificados e menos bem remunerados. Admitamos que sim. Mas não será essa visão bastante redutora e assaz distorcida da realidade? Como é que se justifica que entre tantas centenas de milhares de portugueses desempregados não se encontrem num estalar de dedos meia dúzia de pessoas para operarem algumas máquinas de costura? Ou para trabalharem atrás de um balcão de uma loja? E o papel do Estado no meio de tudo isto? Como é que se admite que pessoas inscritas nos centros de emprego não compareçam a entrevistas de trabalho sem uma muitíssimo boa justificação? Quem é que paga esse descaramento?

Algo de muito errado se passa. Como se costuma dizer, há muita gente que não está a ver bem o filme. Na maior parte dos casos são aqueles que, ao invés de trabalho, procuram emprego. Assim não vamos lá...

Advogado

domingo, 21 de agosto de 2011

Portugal em lume brando

Parece-me que o País está em lume brando. Não sei se será das férias ou do tempo (meteorológico) inconstante que tem passado por nós.

Os nossos governantes não iam de férias, mas ninguém os vê desde o inicio de Agosto. Tirando raras excepções parece que estão todos a hibernar.

O governo não ia tirar férias, mas tirando os esforços realizados pelos ministros das Finanças e Educação por alturas da visita da Troika e na sexta uma aparição esporádica da ministra Assunção Cristas parece que o país ficou num estado letárgico ou de hibernação momentânea.



A estes junta-se a oposição que de oposição não tem tido nada neste mês de Agosto. Seguro não tem aparecido. A Jerónimo já ninguém conhece a sombra e Louça ainda hoje foi ao seu facebook publicitar as suas férias na ilha Graciosa levando a que pelo menos eu dê por mim a suspirar um "quem me dera", mas com os cortes e aumentos de impostos constantes lá vou passar mais um ano sem férias fora de casa.

No que a politica activa diz respeito apenas temos conhecimento das asneiradas de Alberto João Jardim e do gozo que este faz com o povo de Portugal não tendo vergonha em dizer que aumentou o défice de forma propositada, mas que agora ainda precisa de mais dinheiro para dar liquidez à região.

No meio de tudo isto ninguém se insurge, os governantes vão levando a sua avante e parece que estamos todos à espera de 9 de Setembro fim de semana em que tanto PS como BE voltam ao activo com o congresso no partido da rosa e o fórum dos bloquistas. É verdade que antes temos o avante, mas este já é mais festival que espaço de intervenção.

Esperemos que o país consiga acordar deste adormecimento generalizado enquanto que alguns mais ou menos iluminados vão discutindo o país nas redes sociais onde ainda existe quem esteja acordado e em forma.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Passos aumenta impostos e tenta garantir diminuição de despesas de Sócrates

Poderia ser assim resumida a entrevista que Victor Gaspar deu a Judite de Sousa na TVI (que se pode ver AQUI)

Já foram vários os impostos lançados pelo governo de Passos Coelho e quanto a medidas de diminuição de despesas ainda não vimos nada, mesmo tendo sido esta apontada como prioridade de Passos Coelho aquando da campanha eleitoral.

Pior que não apresentar medidas de redução de despesa é dizer que as medidas apresentadas por Sócrates no Orçamento de Estado para 2011 (apresentado em Novembro de 2010) são suficientes, mas ter o descaramento de continuar a apresentar novos impostos e anunciar que mais aumentos estão a caminho.

Os transportes públicos aumentaram, mas já está anunciado que voltarão a aumentar, mas no entanto ficou por aumentar o preço dos comboios ALFA que geralmente, devido ao seu preço, são utilizados por cidadãos de classe alta ou média-alta...

A electricidade e o gás acabaram de aumentar sendo que ao fim do mês cada família média vai pagar cerca de 15 a 20€ a mais por mês. Não parece muito, mas sempre são 180 a 220€ por ano por família. e já se prevê nova actualização das tarifas para Janeiro

Agora são os professores que afinal vão ser avaliados, mas apenas de 4 em 4 anos, e nem todos... Os Supra-sumo da sabedoria e comodamente instalados no topo da carreira estão isentos de qualquer erro e logo não necessitam de estar sujeitos a avaliação (Pura demagogia, para dizer idiotice). Ao menos tiveram coragem de manter um sistema de avaliação, mas vamos ver no que vai dar.

Redução da Despesa ainda nada...

Vamos ainda ter de aumentar os impostos para:
- Pagar a oferta do BPN que já havia sido roubado, espoliado e desmembrado por militantes históricos do PSD para agora ser "comprado" a um outro militante reputado do partido do governo (Mira Amaral) em que este vai ter acesso a todas as mais-valias do banco e no fim de contas ainda vai receber para ficar com o banco...
- contribuir para os devaneios da Região Autónoma da Madeira e o aumento extraordinário da sua dívida externa. Madeira que é governada nada mais nada menos que pelo mesmo partido que governa todos os Portugueses.

Já para não falar da previsível diminuição da TSU que já foi em tempos comprovado que não resulta em mais que num aumento dos lucros das empresas e enriquecimento licito de empresários e o consequente aumento do IVA que irá ser pago por todo o povo.

Parece que se começa a assistir a uma tendência clara, mas dadas as dificuldades que as classes mais pobres de Portugal passam ainda não quero acreditar no que vejo...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A (ir)responsabilidade dos professores

Permitam-me que use o termo professores desta forma tão ligeira porque pretendo mesmo falar da fenprof que a bem ou a mal representa os professores deste país. Verdade seja dita que caso eu fosse professor estaria neste momento ofendido e caso fosse um bom professor estaria a sentir-me mesmo muito insultado, mas a verdade é que são os professores quem escolhe os seus representantes.

Escrevo este texto depois de ser alertado para um comunicado da fenprof que pode LER AQUI e que me deixou mais uma vez incrédulo.

Começamos por ler na página inicial da federação o seguinte: 
"Calendário negocial alargado para Setembro permitirá o envolvimento dos professores!"

E desde logo me pus a reflectir e a equacionar onde ficam a pretensão da própria fenprof invocada há alguns meses atrás de querer resolver esta questão antes do inicio do próximo ano lectivo??!!! Ou serão as férias mais importantes que defender esta importante classe profissional do nosso país e de qualquer sociedade?

No entanto parece-me simples a resposta.

O que afinal a fenprof deseja é que se acabe com todo e qualquer tipo de avaliação e se volte aos antigos sistemas de progressão continua e automática, mas caríssimos recordo que esses tempos já lá vão e seria um grande retrocesso se tal voltasse a ser aplicado.

"Falta agora saber até que ponto é que, com estes princípios, o MEC conseguirá libertar-se do modelo actual de avaliação – que o PSD, há poucos meses, considerou kafkiano e monstruoso – e apresentar um que tenha, efectivamente, uma matriz formativa."

Como poderemos ver pela citação anterior  a fenprof propõe como proposta simples que se acabe com o processo de avaliação e se passe a ter em conta apenas uma mera matriz formativa que eventualmente seria controlada integralmente pelos professores pois a intervenção de qualquer profissional externo qualificado para avaliar seria uma afronta aos direitos dos professores, como já várias vezes defenderam. E mais...

"Neste conjunto, nada consta sobre o reconhecimento do mérito absoluto, princípio muito importante que deixaria, desde já, claro que seriam abolidas as quotas de avaliação."

Mas que mérito absoluto meus senhores? O mérito de terem conseguido em tempos tirar uma licenciatura habilita alguém para exercer a docência ad eternum? Será que ter um canudo e periodicamente frequentar formações cuja qualidade dificilmente conseguirá ser auditada externamente é suficiente para ser um professor de excelência e assim progredir na carreira a cada 3 ou 4 anos?

Tudo isso me parece claramente insuficiente meus senhores e um bom sistema de avaliação é fundamental para que o nosso sistema de educação tenha mais qualidade e se possa fazer a triagem entre bons e maus professores.

As nossas crianças e jovens merecem isso.

Depois da coragem demonstrada pelo anterior governo do PS em instituir um sistema de avaliação é fundamental que o actual governo prossiga nessa senda se possível melhorando esse mesmo sistema.

Eu se fosse professor e essencialmente se fosse bom professor exigia responsabilidade a estes senhores da fenprof e o seu contributo útil para a promoção de um bom e justo sistema de avaliação.