Paulo Portas tem uma qualidade inata para seja qual for a eleição, seja qual for a questão sair sempre a ganhar. E quando não pode ganhar ou não chega a acordo ou nem sequer participa.
Durante anos e anos, enquanto oposição, Portas criticava de forma assertiva tudo o que havia a criticar em relação aos governos que estavam em exercício. De tal maneira que muitos até já pensavam que o negócio dos submarinos tinha sido engendrado pelos governos do Partido Socialista e não pelo próprio Portas.
Portas passou a ser uma figura querida de grande parte da população. Quem não se lembra do "Paulinho das feiras" com as suas boinas e samarras tão características do povo Português e que tanta admiração e votos valeram entre muitos eleitores. Paulo Portas passou de homem de uma direita acentuada e com origem em famílias burguesas para ser considerado quase como um homem do povo. Um homem do povo simples e honesto que mostra tudo aquilo que é e nada esconde, pois aparentemente, com tanta simplicidade, nada haverá a esconder.
No entanto Portas chega ao governo e começa-se a revelar, novamente, o verdadeiro Portas - o Burguês.
Este nosso Burguês é um tipo inteligente, perspicaz e com uma experiência política acima da média. O Burguês conseguiu negociar para si e para os seus lugares-chave, mas que em nada os iriam comprometer nem a ele nem ao seu partido.
Portas - o Burguês, ficou com o lugar mais desejado. O Ministro dos Negócios Estrangeiros é aquele que de nada pode ser acusado, mas que os pequenos feitos alcançados são quase sempre objeto de regozijo internacional. É aquele ministério que quando algo de mal se passa entre-portas o seu titular pode sempre afirmar que está mais atento ao desenvolvimento internacional e a negociar isto, aquilo, ou coisa nenhuma. Nunca se sabe exatamente o porquê pois como são negócios que envolvem outras nações o secretismo é lei não oficial. Além disso, este é sempre um ministério que permite ao seu titular ir negociando cargos para quando cesse funções a nível nacional. Portas não tem como perder e os ganhos podem ser imensos.
Mesmo que não ganhe a nível internacional, também não perde a nível nacional. Portas está a cumprir, em teoria pelo menos, as suas obrigações e os dois ministros por si indicados estão tão limitados nas suas funções que têm sempre desculpa. Mota Soares apesar de ser Ministro quase que funciona como secretário de estado de Gaspar. Assunção Cristas sendo ministra pode sempre desculpar-se pelo facto de ser quase uma extensão da UE.
Portas por si não perde, com Mota Soares tem Gaspar para perder mais que ele e Assunção Cristas tem sempre desculpa. Só para reforçar, caso os dois ultimos se "portem" mesmo muito mal, serão ou seriam sempre ministros novos e inexperientes a que têm de ser desculpadas algumas coisas.
Só para terminar... Portas ainda se dá ao luxo de não acordar em temas que lhe podem ser prejudiciais como é o recente caso da revisão da lei eleitoral autárquica...
Não fossem os seus conceitos ideológicos tão diferentes dos meus e até afirmaria que o Burguês poderia ser um grande político. Sendo assim não o vou fazer. Reconheço apenas que, apesar de muitas vezes errado, o Burguês sabe levar a sua avante.
Nuno Miguel Pedrosa
